Um dos “efeitos secundários” de se fazer turismo em bicicleta é redescobrir um Portugal diferente e mais bonito. Na procura de estradas com pouco trânsito motorizado, a minha curiosidade leva-me quase sempre para o interior do país. E para aproveitar melhor o verão, as praias oceânicas são trocadas por praias fluviais, geralmente em locais de grande beleza natural e cenários fantásticos, normalmente com muito menos confusão que o litoral. Além disso, as praias fluviais costumam dispor de zonas de relvado e árvores, com sombra, para melhor aguentar as horas mais quentes do dia. E a temperatura da água é menos fria que a do mar, uma vez que as correntes dos rios nestas áreas são acalmadas, dando oportunidade para a temperatura atingir níveis óptimos para banhos!
De vez em quando faço uma pesquisa na internet por praias fluviais e depois guardo-as com “estrelinhas” no Google Maps, para mais tarde planear uma viagem de bicicleta.
Tinha um fim-de-semana livre, sem crianças, e queria conhecer mais uma, ou duas, dessas praias fluviais. Já andava a “namorar” há algum tempo as Praias Fluviais de Ortiga e Alamal, a oriente de Abrantes. Eram daquelas que dá para fazer num fim-de-semana, tranquilamente. Fiz um reconhecimento das estradas no Google Maps para ver possíveis rotas e distâncias e consultei os horários dos Comboios Regionais entre Lisboa e Entroncamento, um lugar onde gosto de começar a pedalar, por nos deixar rapidamente mais perto de vários destinos interessantes. É também possível ir de comboio até Ortiga ou Belver (a distância caminhável do Alamal), mas eu queria mesmo pedalar por novas estradas e caminhos. Atenção que na consulta de horários entre Lisboa e Entroncamento, não aparecem os Comboios Regionais que vão para Tomar (que também param no Entroncamento), pelo que se quiserem ter mais opções de horários, não se esqueçam desta dica!
O plano foi apanhar o Regional que parte às 6:45 de Santa Apolónia (6:53 do Oriente) e chega ao Entroncamento às 8:20. Daí pedalar sempre pela margem Norte do Tejo até ao destino.
A primeira paragem para fotos foi no Jardim Ribeirinho de Tancos, onde podemos apreciar ao longe o Castelo de Almourol e a bonita localidade em frente. Ainda passei em frente aos quartéis de Tancos, onde me cruzei com um grupo suspeito… será que estavam a preparar-se para roubar armamento pesado… mas nem sequer traziam alforges!
Em Constância em boa hora saí da N3. Desci até à zona ribeirinha e descobri o “Caminho Agrícola do Campo”, que segue durante 6 kms junto ao rio, numa estrada em cimento, com um sinal de proibição de veículos motorizados.
Regressei à N3, quase deserta de carros e parei em Abrantes para tomar o segundo pequeno-almoço. Só em Mouriscas é que deixei a N3 e apontei a Ortiga, por caminhos municipais, para ver como era a praia fluvial.
Depois da descida até à Praia Fluvial de Ortiga, veio uma subida com uma pendente acentuada, com o primeiro km mais empinado aos 10%, para depois ir aliviando até Belver. Aqui fiz mais uma paragem para petiscar uma sandes de presunto e queijo, acompanhada duma cerveja fresquinha para repor os níveis de hidratação. Tentei visitar o castelo, mas estavam encerrados para almoço. Não faz mal, pretendo voltar com companhia da próxima vez! De qualquer maneira aproveitei para espreitar a Praia Fluvial lá do alto e apreciar as vistas magnificas. É difícil escolher as melhores fotos, pelo que mostro várias!
Depois de descer mais uma vez para atravessar o Rio Tejo, volto a subir (e a descer novamente) para chegar por estrada à Praia Fluvial do Alamal, o meu destino final. Em alternativa, logo depois da ponte existe um passadiço que acompanha o rio até à praia. Só que tem algumas escadas. Na realidade são poucas escadas e até dá para ir de bicicleta, para quem queira evitar a subida íngreme (eu gosto). Claro que implica carregar a bicicleta por 2 lanços de escadas de 6 degraus e outros 2 lanços com uns 20 degraus… mas faz-se!
Ok, o que eu quero mesmo dizer é: “agora que talvez te tenha dado a ideia de ir a esta praia, deixa lá o popó em casa, que estes lugares dispensam a poluição e o espaço desmesurado que umas dezenas de carros rapidamente se apropriam, estragando o cenário. Se não queres ir de bicicleta, podes ir de comboio! Muito mais fixe que ir de carro! Em Belver existe uma estação mesmo ao pé da ponte. Apanhas um regional em Lisboa às 9h53 e às 12h50 estás em Belver. Depois é uma belíssima caminhada de 2,5 kms (a maior parte pelo passadiço) até à Praia, onde podes ficar a dormir no Alamal River Club ou montar a tenda de borla nos socalcos com relva e árvores, apropriados para o efeito.”
Passeio o resto da tarde na praia, onde dei uns bons mergulhos e nadei no rio, com uma temperatura óptima. Passeei nos passadiços, li um livro, comi no café e deixei o tempo correr sem pressa. No final do dia estava a montar a tenda na relva, quando vem um senhor me avisar que à noite a rega automática entra em ação, duas vezes, e que o melhor era usar os patamares elevados, em forma de socalcos. Agradeci este útil conselho e mudei a tenda, esclarecido do porquê não haver mais tendas cá em baixo, onde a relva era mais verde!!!
Além da minha tenda, havia mais algumas, distribuídas pelos 2 patamares elevados, mas com bastante espaço livre entre cada uma. Não se paga nada, o que é fixe. E no WC da praia balnear, com nadador salva-vidas e tudo, havia dois duches cá fora, para tirar a areia, e outro duche dentro da casa de banho, para quem quer tomar um banho a sério com privacidade. A acampar havia famílias com crianças e grupos de jovens. Felizmente não houve “regabofe” e deu para adormecer ainda cedo e em silêncio. Acho que a malta nova foi passar a noite às festas do Gavião, a localidade mais perto. Pouco depois de ter me levantado, às 6:00 da manhã, para arrumar a tenda e partir, chegaram da noitada e aí fizeram bastante barulho.
Nas minhas viagens de bicicleta gosto sempre de acordar cedo para aproveitar o fresco da manhã e as estradas sem carros. Neste fim-de-semana as previsões do tempo deram 40º para esta região, mas na realidade o calor só começa mesmo a apertar depois das 14h00. Hora em que já normalmente pedalei o que havia para pedalar e cheguei a algum destino com sombras, água e comida. Por isso, viajar de bicicleta no pico do verão não é tão duro como parece. E a deslocação do ar ajuda a aguentar bem o calor, ao contrário de quando caminhamos. Além de que na bicicleta não levamos nada em cima, pois a bicicleta é que carrega a bagagem nos alforges e o corpo fica livre para “respirar”. E se usarmos um calçado de verão, daqueles com “rede de arejamento” e umas boas meias, até os pés se mantêm secos.
O despertador tocou às 6:00 e às 7:00 já estava a caminho, pronto a enfrentar os primeiros 5 kms sempre a subir até à localidade de Gavião, onde parei para tomar o pequeno-almoço. A partir daí, é quase sempre a descer ou plano até ao Entroncamento. Desta vez, fiz o regresso pela margem sul do Tejo. Mais uma viajem tranquila, com muito pouco trânsito motorizado e bonitas paisagens. Apenas regressei à margem norte perto de Constância / Praia do Ribatejo, onde há uma ponte paralela à ponte ferroviária, com apenas uma via e um semáforo que alterna o sentido do trânsito de atravessamento. Claro que a bicicleta passa sempre 🙂
Quando ia a passar perto do desvio para o Castelo de Almourol, lembrei-me dumas saladas que tinha visto no menu do café (Bar do Castelo) quando ali passei 3 semanas antes a caminho da albufeira do Castelo do Bode, para conhecer a Praia Fluvial da Aldeia do Mato. Era mesmo isso que me apetecia comer e lá fui. Depois de almoçar consultei o horário dos Comboios Regionais para Lisboa a partir do Entroncamento. Geralmente há um Regional por hora, mas entre as 12h e as 14h não. Tinha uma hora e meia para matar e decidi ir para o excelente Parque Ribeirinho de Vila Nova da Barquinha. Uma extensa zona verde, com relvados, árvores, sombras, esplanadas e muitas obras de arte urbana. Outro óptimo lugar para passar o dia, em família, acessível por comboio e/ou bicicleta.
Perto das 14:00 já estava a apanhar o comboio de regresso a Lisboa, onde chegaria perto das 15:00. Estava concluído mais um fim-de-semana de encher as medidas, com actividade física moderada, paisagens lindíssimas, muitos momentos “Zen” e onde conheci mais um pedacinho do nosso bonito Portugal.
Percurso – Dia 1 – Ida:
Percurso – Dia 2 – Regresso: