Mas afinal qual é a diferença entre utilizadores UTILITÁRIOS e utilizadores RECREATIVOS?

O argumento mais comum que se ouve entre daqueles que têm vindo a criticar os planos para a concretização de um eixo ciclável na Alameda dos Oceanos é mais ou menos assim:

“Se o Parque das Nações já tem uma zona ribeirinha tão boa para andar de bicicleta, para que é que vão criar um percurso clicável na Alameda dos Oceanos? Fundamentalismo?? Eu ando de bicicleta ao fim de semana, e vou sempre pela zona ribeirinha, nunca uso a ciclovia da Alameda dos Oceanos”

Quem não se desloca habitualmente em bicicleta para deslocações, tem pouca noção das necessidades sentidas por quem o faz para deslocações, em vez de para passear.

Necessidades de rapidez, conforto e segurança.

Está neste momento a decorrer na Área Metropolitana de Lisboa o European Cycling Challenge (ECC), no qual utilizadores de bicicleta registam os percursos que fazem através de uma app. Um “mapa de calor” dos percursos realizados pelos participantes no ECC encontra-se disponível no respetivo site.

Há um detalhe importante: o alvo do ECC são os utilizadores de bicicleta UTILITÁRIOS. Ou seja, quem está a registar percursos naquela app são pessoas que usam a bicicleta para ir para o trabalho, ir às compras, levar os filhos à escola, etc.

Exatamente ao contrário da aplicação STRAVA, que também disponibiliza o seu “mapa de calor”, mas é dirigida a quem utiliza a bicicleta em lazer ou desporto.

Vamos então comparar os seus dois mapas de calor, o primeiro mais representativo de utilizadores utilitários, o segundo mais representativo de utilizadores recreativos, para a zona da Alameda dos Oceanos e frente ribeirinha do Parque das Nações.

Conclusão:

Os utilizadores UTILITÁRIOS preferem claramente a Alameda dos Oceanos. Porque é mais rápida, mais confortável, e mais próxima dos sítios para onde as pessoas se pretendem deslocar.

Os utilizadores RECREATIVOS preferem a frente ribeirinha, porque estão a passear ou a fazer BTT, e é mais bonito ou divertido.

Não é por acaso que o Parque das Nações ainda tem poucas pessoas a deslocar-se em bicicleta para fins utilitários. A Alameda dos Oceanos, por enquanto, é só para os mais rijos. Quando fizerem um percurso ciclável conveniente, confortável e seguro, as pessoas com bicicleta virão!

 

João Bernardino

3 thoughts on “Mas afinal qual é a diferença entre utilizadores UTILITÁRIOS e utilizadores RECREATIVOS?”

  1. Não acredito que nas eleições de 2021 as duas ciclovias previstas para a Alameda dos Oceanos na zona norte se justifiquem.Esta zona é mais populosa do que o resto de toda a freguesia. Não tiveram em atenção a dificuldade de uma ambulância atravessar a Alameda no engarrafamento da manhã vinda de norte para sul. Isto mesmo já se verifica na zona central. Considero que a proposta apresentada explica mal como as bicicletas conseguem sair para as ruas perpendiculares. Nada tenho contra as ciclovias. Viajo muito e conheço países em que as bicicletas são o principal meio de transporte, mas nunca elas ocupam uma ciclovia, têm um espaço próprio só para elas, muito protegido mas que não inviabiliza o trânsito local, especialmente autocarros ou eléctricos.

  2. A proposta apresentada em nada inviabiliza o trânsito de autocarros e de transporte motorizado individual. Pretende reduzir o volume do tráfego de atravessamento e introduzir medidas de acalmia de tráfego que vão tornar a Alameda dos Oceanos um espaço muito melhor para ser usufruído por todos.

  3. Caro João Bernardino, Gonçalo Peres,

    Eu não sei se há aqui fundamentalismo, ou falta de realismo.
    Eu sou utilizador UTILITÁRIO e também RECREATIVO (a parte do desporto – andar por exemplo 40kms a 15km/h – não sei onde se enquadra. é recreativo? utilitário?…).
    Costumo ir às compras de bicicleta, a casa de familiares de bicicleta e, infelizmente apenas esporadicamente, trabalhar de bicicleta. Digo infelizmente porque trabalho demasiado longe para ir de bicicleta para o trabalho. Infelizmente também, essa é a realidade da maior parte dos moradores.

    Eu gostaria de fazer algumas considerações sobre este artigo.

    – Porque é que este estudo não faz sentido?
    De facto tem razão, o Passeio dos Herois do Mar não é uma opção confortável para nos deslocarmos. O piso muda totalmente consoante o tempo está mais humido, ou mais seco, não é delimitado, não é liso. Eu próprio evito passar por lá, nas minhas deslocações, e chego a preferir ir por ruas à opção do passeio (provavelmente iria aparecer a laranja no vosso estudo). Acontece que, o Passeio tal como é atualmente, não é, nem tem uma ciclovia. Estão portanto a comparar uma situação atual com uma solução futura. Eu pergunto: para irem para o trabalho, entre utilizar uma ciclovia, delimitada, lisa ao longo do passeio dos Herois do Mar muito mais aprazível, vocês iriam preferir uma ciclovia ao longo da estrada em que ainda têm que passar passadeiras na rotunda? Creio que nenhum ciclista “utilitário” com bom senso prefiria a segunda opção, ainda que podendo ter que fazer mais 2*250mts (distancia entre as duas soluções).

    – Porque é absurdo dizer que o transito não é afetado?
    Isto é demasiado elementar para me prolongar muito, e vocês próprios se contradizem. 1 – Estamos a reduzir uma faixa para automóveis em todas as faixas totais disponíveis num dado sentido (somando alameda dos oceanos, av d. joão ii, etc). 2 – Se consideram que parte dos automóveis, vão passar a preferir ir por outro trajeto, estão vocês próprios estão a assumir que o fluxo de transito vai ficar degradado neste trajeto e, como tal, vai afetar as milhares de pessoas que ali vivem.

    – Ciclista Utilitário vs Ciclista Recreativo?
    Juro que não consigo entender isto, nunca tinha visto tal discussão. Uma ciclovia em condições é uma forma de nos deslocarmos de um ponto para o outro de bicicleta, seja para ir para o trabalho, ir às compras, fazer desporto, passear. O importante é os peões terem o civismo de não a utilizarem para passear a pé, como acontece na maior parte das ciclovias em Lisboa. E acreditem que as conheço a todas. Já tive também oportunidade de utilizar a bicicleta como meio de deslocação em Amsterdão e Berlim, e nunca vi tal distinção, vejo ciclistas de fato e gravata a ir para o trabalho atravessando parques onde estão outros ciclistas a passear.

    Eu sou um amante da bicicleta como meio de deslocação em todas as suas formas, mas considero não traz nada de bom à causa ciclista criar ciclovias onde hoje em dia estão faixas automóveis necessárias para uma boa mobilidade. Há que arranjar soluções que não prejudiquem milhares de residentes (esses não estão de passagem) com fé que passem a andar de bicicleta. Quem lhes dera a elas poderem.

    Cumprimentos

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